Rapha Moraes fala da música independente
"É sempre bom mudar, movimentar, cativar e ser cativado”
O músico independente, Rapha Moraes, fala sobre o mercado da música independente, suas dificuldades e divulgação sobre o financiamento coletivo que, por intermédio dos fãs, contribui para promover novos artistas.
Durante as férias de final do ano de 2012 na Argentina e no Chile, Rapha Moraes decide ter um trabalho paralelo da banda Nuvens onde era vocalista. No ano de 2013 começou o projeto ao lado de Juninho Jr, Helena Sofia e Noélle Bonacin e sendo curitibano teve a ideia de espalhar o seu som por outras cidades, foi assim que veio para São Paulo e nesse ano lançou o seu primeiro álbum solo “La Buena Onda”
O que é a música independente pra você e porque ela deve ser ouvida?
Rapha - É aquela que está desconectada das grandes empresas e gravadoras, que depende de uma estrutura inicialmente quase que amadora para construir uma história. Isso tudo gera uma organicidade tremenda e faz o coração falar mais alto. Hoje é essa arte que pode movimentar e desenvolver a cultura do país.
Como ex-integrante da banda Nuvens e atualmente em carreira solo, quais foram as diferenças que você identificou?
Rapha - A liberdade no tempo da produção e transição entre as coisas e ideias. Hoje uma canção sai do mundo das inspirações pro palco numa velocidade tremenda!
Produzir música: Qual o público alvo e qual o papel da música atual em sua opinião?
Rapha - O papel na verdade não é "o”, mas "os". Cada artista tem sua verdade e cada verdade tem seu papel. Não gosto de enxergar um papel maior, pois isso tira a individualidade e as necessidades individuais, que no final formam o coletivo.
Mas sensibilizar, de alguma maneira, é um caminho.
Para a divulgação da música independente no Brasil existe estratégia? E quais os pontos positivos e negativos para atingir o seu objetivo?
Rapha - Existem várias e nenhuma delas é uma fórmula ou uma regra. Acho que na prática, através da internet e shows, no contato com o público, cada artista vai trilhando e traçando a sua.
O negativo é a falta de estrutura e atenção para a cultura no nosso país, que passa por governo, mídias e que estoura no público e artistas, mas que começa lá do começo mesmo, na educação falha e frágil.
O positivo é a sensibilidade das pessoas. Os corações abertos e a expectativa de uma vida mais bonita e justa onde sonhos e sensações tenham oportunidades iguais ou próximas. A poesia está aí, nessas sutilezas.
Em algum momento, você deixaria a sua carreira independente para assinar contrato com uma gravadora?
Rapha - Se for interessante pra mim, para minha arte e carreira eu faria, sem perder minha autonomia. Acho que tudo que vem para potencializar a mensagem, com verdade, é bem-vindo. Não podemos generalizar as coisas. Os caminhos são vários em todos os campos da vida.
Como qualificar o conteúdo que produz e o que você quer dizer através das suas músicas?
Rapha - Acho que a qualificação deixo a seu critério e a de todos que escutam minhas canções. O que quero dizer? Hummmm... quero transmitir quem sou e o que acredito na vida. No amor, no ar que respiro, no ser humano, em cada olhar e instante.
E acho que cada canção é muito maior que minha intenção com ela. E cada um que a escuta tem esse poder de dar ainda mais valor. Que assim continue ;)
Alguém já tentou "calar" a sua música?
Rapha - O tempo todo isso acontece dentro de mim. Cada dificuldade vem pra isso né? Tentar calar nossa força. Mas aí eu paro e canto "SHHHHH”. Meu silêncio existe mas ele é musicado. Aqui música não é opção, é vida constante e pulsante.
Percebemos a manifestação dos músicos de várias regiões do Brasil, mas o que um músico independente, assim como eles, pensa ao vim pra São Paulo divulgar o seu trabalho?
Rapha - Penso em vida nova, expansão de ideias, novas amizades e pessoas sem perder tudo que já construí até hoje. É sempre bom mudar, movimentar, cativar e ser cativado. Adoro a ideia de estar com o pé na estrada e desbravando novos mundos. São Paulo, Rio, Buenos Aires, Montevideo, Madrid.... Cada canto é uma linda oportunidade
O funk, por exemplo, é o líder do mercado da música independente. Como um novo músico se mantém na concorrência?
Rapha - Não concorre...rs São mundos diferentes, querer concorrer é loucura. Tem gente que gosta de amargo e tem gente que gosta de doce. Tem gente que gosta dos dois. Fazer música não é concorrer, é compartilhar.
O financiamento coletivo para o músico que começou agora é positivo até que ponto e qual retorno o público tem disso?
Rapha - É legal por ver que existem pessoas interessadas e sensíveis a arte. Ajudar financeiramente um artista a produzir seu material é se posicionar na sociedade de uma maneira especial. É mostrar que tem um olhar crítico e diferenciado. Sou grato a isso e ao apoio que recebi. Além disso, é também um trabalho árduo, desgastante e tenso. Nos 49 minutos do segundo tempo meu financiamento foi bem sucedido. Haaaaaaja coração!
Texto e Entrevista: Tatiane Mello
Foto: Guilherme Lima