DÔDI FALA DA MÚSICA INDEPENDENTE E SEUS DESAFIOS

 “É uma coisa muito complicada dizer que existe música independente, ela é dependente das orelhas, dos ouvidos alheios. ”

    Douglas Jericó, mais conhecido como Dôdi, paulistano, 31 anos, mora em Osasco. Cantor e compositor lançou seu CD “...e adeus Carina” em maio de 2013.

 

Ele nos recebeu em sua casa e nos contou sobre sua paixão pela música e as dificuldades na carreira artística, que aumentou depois que ficou tetraplégico.

O músico independente, Dôdi, fala sobre o mercado da música independente, suas dificuldades e divulgação do seu trabalho.

 

 

Qual foi o maior desafio da sua carreira musical independente?

Dôdi - Está sendo ainda, não tenho ajuda de ninguém. Eu sou tetraplégico, então tenho que contar com os meus pais para montar o cenário, por exemplo. O maior desafio é “tá” sozinho, resumidamente meus pais me ajudam, mas se eu brigo com a minha mãe, brigo com a minha irmã ou tem alguma discussão, já não tenho essa ajuda que vem de graça, entendeu. Sou eu sozinho e as pessoas que estão começando a gostar e ajudando aos poucos. Espero que isso cresça!  

O que é música independente pra você e por que ela de ser ouvida?

Dôdi – Na verdade todas as músicas são dependentes, mesmo com gravadora você precisa gastar um bom dinheiro para as pessoas gostarem. Existe a procura pelo público e a divulgação para esse público é como se fosse um jogo de xadrez, bem complicado. É uma coisa muito complicada dizer que existe música independente, ela é dependente das orelhas, dos ouvidos alheios. Ela deve ser ouvida porque merece, porque a música é a coisa mais bonita do mundo, qualquer tipo de música considerada independente ou dependente, eu considero música/música e desde “Cada um no seu quadrado” até um Chopin um Beethoven, nenhuma música é melhor que a outra, existe um público para cada um e a música é uma estrutura temática que vem com alma e amor.

 

 Produzir música: Qual seu público alvo e qual o papel na música atual em sua opinião?

Dôdi - Meu público alvo Graças a Deus foi exatamente o que eu queria. Eu fiz um CD considerado independente porque ele foi totalmente dependente de tanta gente, dependente de muito dinheiro é caríssimo e o meu público alvo era todo mundo, eu esperava assim como eu, uma pessoa que gosta de todos os estilos, encontrar pessoas que ouçam e acabem por gostar. O meu CD, esse primeiro, eu fiz um apanhado de músicas com nenhuma pretensão de público, na verdade eu escolhi as músicas que eu mais gostava e obviamente algumas delas eu tinha certeza que dificilmente iam atingir determinados públicos e outras talvez atenderiam outros públicos, porém público é uma coisa complicada você pega uma pessoa que gosta de um estilo de música X e do nada ele acaba de conhecer um estilo Y e acaba amando na hora é uma coisa bem complicada, em tudo certo muda e a graça está em entender isso, né. E a música sempre vai ser a música, existem as pessoas que são vanguardistas e acham que tudo que vem do passado é melhor e eu acredito que nem o Pelé tenha sido melhor eu acredito que são fases diferentes e os melhores do mundo, considerado no futebol, por exemplo, pegando como exemplo, naquele ano ele foi o melhor do mundo, então não existe o melhor de todos os tempos isso é um conceito social, respeitável, mas eu não concordo, pra mim a música ela está sempre...pelo amor de Deus, quanta música existe no mundo, e por mais que elas pareçam ás vezes iguais elas são totalmente diferentes, porque a voz de uma pessoa não existe, voz melhor que a outra, ela é uma impressão digital como a que tem em seu dedo, então a gente acaba por...eu particularmente, por interpretar que a música vai ter um papel atuante em qualquer era, em qualquer período da história e individualmente na vida de cada pessoa em seus universos particulares, basicamente a música é um mundo individual, ela não pode ser generalizada quanto ao seu conceito até mesmo as músicas mais famosas quando as pessoas generalizam que mudou a vida de muita gente é verdade, mas não é uma informação completa, a gente não tem a menor noção dos momentos que as pessoas passam ouvindo determinada música no carro, no fim de um namoro, no começo de um, num casamento, em uma morte, sabe, é muito especifico, a música é mágica e todos os músicos são super heróis, sabe, do bem. Muitas vezes podem fazer o mal, mas acredito que não seja a intensão de nenhum deles, ou não né?

Para a divulgação da música independente no Brasil existe estratégia? E quais os pontos positivos e negativos para atingir os seus objetivos.

Dôdi - Bom, como foi minha atuação: eu sou uma pessoa muito ligada à internet, então quando tirei minhas férias em novembro de 2013, eu entrei em contato com todos os meios de comunicação e não obtive nenhuma resposta. Eu acredito que essa foi uma inexperiência minha, então a divulgação no Brasil não tem uma estratégia definida. Os pontos negativos é você ver uma Virada Cultural, por exemplo, que o nosso trabalho nem foi visualizado e saber que até 2017 todas as Viradas Culturais já estejam lotas por pessoas que conhecem pessoas. O ponto positivo pra mim é o fato de poder cantar depois de ter perdido a voz numa lesão medular, ter conseguido a voz de volta e um ponto positivo, enquanto eu tiver cantando e puder cantar pra uma ou milhões de pessoas eu vou estar feliz e esse meu objetivo vai "tá" sendo alcançado.

 

Como qualificar o conteúdo que produz e o que você quer dizer através das suas músicas?

Dôdi - Eu posso te dizer que dificilmente eu iria gravar um CD tão cedo antes de 2009, antes de maio de 2009 quando eu tive uma lesão medular porque eu tocava pra mim mesmo na escada sozinho e eu era muito feliz assim, sabe. Porém eu sempre tive um sonho minha vida inteira de não gravar um, mas gravar muitos CDs porque eu tenho mais de mil músicas, eu componho desde os 8 anos e todas elas mudando as letras porque algumas obviamente foram feitas dos 8 até a idade que você tem um vocabulário limitado e você vai ter pelo resto da vida, inclusive por que em várias das minhas letras, a pesar de ter passado por professores de português e meu pai e amigos corrigindo as letras, alguns dos erros eu decidi por manter por que eu não mudaria a minha forma de falar em uma gravação que eu já tinha feito, sabe, eu não iria voltar lá e gravar novamente, então por exemplo na música Amadurecer a qualidade da gramatica ela é questionável, mas ela tem que ser respeitada pela licença poética, então o conteúdo da Amadurecer numa frase por exemplo, "Quando o coração não te dizer" e é disser. Até o cantor Pedro Pondé que é meu amigo e fez participação na música, ele me disse no momento, mas eu optei por deixar 'dizer' ao invés de 'disser' e na música O segredo da solidão:  "Quem te ver" e é quem te vir, mas eu preferi colocar ver por que as pessoas vão entender, minha avô quando eu cantei e falei vir, ela achou estranho, sabe, ela disse que era mais bonito ver, quem te ver, quem te vir parece estar vindo a algum lugar, então eu  uso o português do jeito que eu acho bonito e eu faço por entender, então isso garante a qualidade e eu acredito que o público que estiver preocupado com a gramatica vai me criticar, inclusive a minha flautista que é minha prima e que gravou O segredo da solidão, ela me criticou, positivamente, construtivamente, mas me lembrou de vários erros nessa música, um deles foi esse e eu optei por manter, e voltando ao assunto de violão, de tocar violão, se eu gravasse um CD por ventura em algum momento jamais ficaria uma qualidade parecida com a leva dos 20 e poucos músicos que foram usados no CD, ia sair algo muito diferente, não pior, não melhor , mas muito diferente, então a qualidade também é algo que não é mensurável, a qualidade de uma música ela pode ser questionada na questão da gravação, na qualidade da mixagem, do cantor e tudo mais, são vários itens que podem sim ser questionados, mas de qualquer maneira existe uma beleza na desafinação existe uma beleza na qualidade inferior de certos tipos de áudios que traz um glamour de se lembrar do passado e se lembrar de momentos, se você encontra uma gravação de celular de algo gravado em 2005 e de alguém especial pra você, tanto faz a qualidade do som, tanto faz a qualidade do CD, você vai preferir aquele ao vivo por que tem um valor inquestionável ao vir dos outros pra você. Pra você aquilo é importante e a qualidade não faz sentido nenhum, você prefere ouvir muito mais aquilo que você gravou no celular, daquele artista que você gosta, do que o CD do artista, eu estou dando um exemplo.

E o que eu quero dizer através das minhas músicas, olha é bem complicado...é muito complicado dizer o que eu quero dizer. O que eu quero dizer é tão perigoso de explicar e é tão particular meu que se eu explicasse, e eu já contei para algumas pessoas e elas ficaram bem assustadas, então eu posso garantir pra você que até hoje poucas pessoas que ouviram as músicas disseram algo parecido que eu pensei, as músicas elas pra mim, particularmente, eu criei um labirinto de palavras pra pessoa entrar lá e se perder nas palavras, nas coesões e nas estruturas encontrando um sentido pra ela, porque o meu sentido até agora eu não encontrei ninguém que tenha encontrado o sentido parecido com o que eu pensei, talvez algo fantasiosamente parecido, mas nada perto, sabe. 

 

Texto e Entrevista: Tatiane Mello

Foto: Guilherme Lima

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